“O sono deveria ser um processo totalmente natural, contudo, num estudo realizado com milhares de pessoas, concluiu-se que apenas 30% dos analisados adormeciam com facilidade, dormiam bem, acordavam revitalizados e cheios de energia. Os outros 70% queixavam-se de insónia, dificuldade em adormecer, dificuldade em manter o sono, sono agitado, espasmos musculares, sonhos confusos e cansaço ao despertar. Alguns acordavam mais cansados do que quando se deitaram.
https://www.vidaativa.pt/medicamentos-para-dormir/
Vivemos numa sociedade em que parte da população está literalmente viciada em medicamentos para dormir. Nunca como agora se receitaram tantos ansiolíticos e indutores do sono. São medicamentos muito perigosos. Se forem tomados ocasionalmente e por uma causa específica não causam grandes problemas. O mesmo não se passa se forem tomados diariamente, uma vez que existem imensos efeitos secundários recorrentes do uso prolongado deste tipo de medicamentos e que, incluem entre outros, sonolência diurna, confusão emocional, capacidade de reação diminuída (alerta reduzido), confusão, fadiga, cefaleias, tonturas, fraqueza muscular, dificuldade de coordenação de movimentos, visão dupla, nervosismo, ansiedade, tremuras, alterações de peso, depressão, perda de memória, amnésia, alterações gastrointestinais, alterações da líbido, irritabilidade e paradoxalmente insónia! Sim, é verdade, um medicamente que supostamente serve para tratar problemas de sono pode conduzir a problemas de sono, bem como à depressão.
Para além disso, o uso deste tipo de medicamentos, segundo o Infarmed, tende a originar dependência física e psicológica como algumas drogas, e a interrupção do seu uso pode dar origem à síndrome de abstinência ou ao fenómeno da recaída.
De onde surgem os problemas do sono?
Esta é a questão que os investigadores ainda não conseguem responder, contudo, sabe-se que o cansaço leva à produção de determinadas substâncias químicas que ativam a formação reticular do cérebro e induzem o sono. Em laboratório, os investigadores fizeram o seguinte teste: retiraram liquido cefalorraquidiano de um gato que se encontrava a dormir e injetaram-no espinal medula de um gato acordado. O resultado foi que o gato acordado adormeceu rapidamente. Fizeram também a experiência inversa. Injetaram num gato que estava a dormir líquido cefalorraquidiano de um gato acabado de acordar. O que estava a dormir acordou prontamente e os seus estados de vigília e alerta aumentaram para o máximo. Isto acontece porque durante o sono são libertadas determinadas substâncias químicas no cérebro, que permitem adormecer ou manter o sono. Inversamente, acordamos e mantemo-nos acordados porque o cérebro liberta substâncias opostas às que nos fazem dormir.
Quando a qualidade do sono é má é porque de alguma forma esta bioquímica está desregulada. Geralmente, não produzimos GABA ou serotonina suficiente para adormecer e nos mantermos num estado de sono reparador. Uma das causas diretas, para além das que vos vou explicar, tem origem na exposição artificial (computadores, televisores, luzes fortes) que inibem a produção destas substâncias.
Permitir que estes processos bioquímicos ocorram naturalmente e de acordo com o nosso próprio ritmo é fundamental para a saúde física e mental.
A privação do sono conduz rapidamente ao declínio da saúde e à perda de qualidade de vida.
Existem condições físicas, como, por exemplo, a dor, certas doenças orgânicas e a utilização de determinados medicamentos que de facto podem causar insónia ou problemas relacionadas com o sono. Contudo, as causas mais comuns nada tem a ver com a parte física, mas sim com problemas psicológicos, como nervosismo, ansiedade, preocupação excessiva, psicose, depressão ou burn out, comprometem a qualidade do sono. Alguns pacientes com depressão, apesar de adormecerem facilmente, acordam a meio da noite e não conseguem voltar a adormecer.
Outros que sofrem de ansiedade são invadidos por uma corrente de pensamentos que não lhes permite desligar a mente e portanto, não dormem e ainda aqueles que acordam simplesmente durante a noite e também não voltam a adormecer igualmente invadidos por pensamentos perturbadores.
Não é, pois, necessário ser um grande cientista para perceber que na maior parte das vezes são os nossos pensamentos que nos impedem de dormir. O sentimento negativo de preocupação (pré-ocupação) e ansiedade nada é mais do que pensamentos negativos relativamente a algo que já aconteceu ou que está para acontecer (regra geral nunca acontece), mas que desencadeia um sentimento perturbador que causa insónia.
Podemos facilmente constatar que, regra geral, os distúrbios do sono praticamente não se manifestam nas crianças, a não ser que de facto tenham uma doença ou uma patologia de fórum mental. Porque que é que as crianças dormem bem? Sobretudo porque são inocentes. Não têm ideias preconcebidas sobre o futuro e, portanto, não se angustiam por com isso. Não conhecem o perigo, o medo, as regras sociais. As expetativas das crianças são muito pequenas e por isso só na medida e proporção em que vão crescendo e contactando com o seu meio ambiente é que vão ganhando medos e receios. Pessoas felizes, realizadas, satisfeitas e amadas não sofrem insónias.
Se quiser resolver os seus problemas de sono, é importante alterar os padrões de pensamento que o interferem com a sua mente e que destabilizam o padrão automático do sono.
Lembro-me perfeitamente de a minha avó adormecer enquanto rezava o terço na sua cama. Na altura não percebia porque que é que isso acontecia e só anos mais tarde liguei as peças todas e compreendi claramente o que se passava. Isto acontecia porque a oração funciona como uma espécie de mantra que reduz a atividade cerebral ajudando o cérebro a relaxar e consequentemente a dormir.
https://rtrlifecoaching.blogs.sapo.pt/oracao-ao-anjo-da-guarda-2024
O mais importante não é dormir muito, mas sim dormir bem.
Fonte: Bravo, João; Burn Out; Casa das Letras, setembro 2019 2ªedição, 978-989-780-109