“O seu ritmo circadiano de 24 horas é o primeiro de dois fatores que determina a vigília e o sono. O segundo é a pressão do sono. Neste preciso instante, há um químico que se acumula no cérebro e que se chama adenosina.
Uma das consequências do aumento da adenosina no cérebro é o aumento da vontade de dormir. Através de um inteligente efeito duplo, as concentrações elevadas de adenosina diminuem simultaneamente o «volume» das regiões cerebrais que promovem a vigília e aumentam a atividade das regiões cerebrais que induzem o sono.
Como resultado desta pressão química para o sono, quando a concentração de adenosina atinge o seu ponto máximo, segue-se um impulso irresistível para a sonolência. Acontece à maior parte das pessoas depois de entre as 12 a 16 horas acordadas.
No entanto, é possível acalmar artificialmente os sinais de sono enviados pela adenosina ao recorrer a um químico que faz com que se sinta mais alerta e desperto: a cafeína. A cafeína não é um suplemento alimentar. Pelo contrário, é o estimulante psicoativo mais usado (e abusado) em todo o mundo.
Os níveis de circulação da cafeína atingem o ponto máximo cerca de meia hora depois do consumo oral. A cafeína tem uma meia vida (eficácia) de entre cinco a sete horas. Digamos que bebe uma chávena de café depois de jantar, por volta das sete e meia da tarde. Isto implica que quando for uma e meia da manhã, 50% da cafeína ainda pode estar ativa e em circulação no seu tecido cerebral.
A cafeína – não existe apenas no café, mas também em alguns chás e muitas das bebidas energéticas, chocolate negro e gelados, assim como em comprimidos para a perda de peso e analgésicos – é um dos culpados mais comuns no impedimento das pessoas adormecerem com facilidade e em dormirem profundamente depois; esta ocorrência é tipicamente disfarçada de insónia, que na verdade é uma condição médica.
O «impulso» da cafeína acaba por se desvanecer. Ela é eliminada do seu sistema através de uma enzima presente no fígado que se vai degradando com o tempo. Amplamente baseado em fatores genéticos, algumas pessoas têm uma versão melhor desta enzima (citocromo) que decompõe a cafeína.
O processo de envelhecimento também altera a velocidade de eliminação da cafeína.”
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 37 a 41