O seu núcleo supraquiasmático comunica o sinal cíclico da noite e do dia ao cérebro e ao corpo usando um mensageiro circulatório que se chama melatonina.
A melatonina tem outros nomes, onde se incluem, por exemplo, «a hormona da escuridão» e a «hormona vampírica». Não porque seja algo sinistro, mas simplesmente porque é uma hormona relacionada com a noite.
Instruído pelo núcleo supraquiasmático, o aumento do nível de melatonina, começa assim que chega o entardecer, sendo libertado na corrente sanguínea pela glândula pineal, uma área situada nas profundezas da parte de trás do cérebro.
A melatonina atua como um poderoso megafone, enviando uma mensagem clara ao resto do cérebro e do corpo. «Está escuro! Está escuro!» Neste momento, recebemos a notificação de que é noite e com ela o comando biológico de que chegou a altura de dormir.
Desta forma, a melatonina ajuda a regular o timing em que o sono ocorre, assinalando sistematicamente a escuridão por todo o organismo.
Mas a melatonina tem pouca influência na produção do sono propriamente dita: esta é uma presunção errada da parte de muita gente.
Para tornar esta distinção mais clara, pense no sono como uma corrida olímpica de 100 metros. A melatonina é a voz oficial que diz «Atletas, aos vossos postos», e depois dispara o tiro de partida que dá início à corrida.
A voz oficial (a melatonina) controla quando a corrida (o sono) começa, mas não participa ativamente nela. Nesta analogia, os atletas são as restantes partes do cérebro e os processos que geram ativamente o sono.
A melatonina reúne estas regiões do geradoras do cérebro e coloca-as na linha da partida na hora de ir para a cama.
Esta hormona providencia simplesmente as instruções oficiais para que comece o evento do sono, mas não participa na corrida propriamente dita.
Por estes motivos, a melatonina por si só não é um poderoso coadjuvante do sono, pelo menos não para individuos saudáveis, sem estarem sob o efeito de jet lag.
Na verdade, a presença de melatonina na solução para este fenómeno é escassa, se é que de todo existente. Posto isto, existe um efeito placebo significativo em relação à melatonina que não deve ser desvalorizado: afinal, o efeito placebo é o efeito mais confiável de toda a farmacologia.
Também é importante perceber o facto de que, nos Estados Unidos, a melatonina se encontra nos medicamentos de venda livre não é regularmente regulada pelas autoridades indicadas como a US Food and Drug Administration (FDA).
As avaliações científicas das marcas de venda livre encontram uma concentração de melatonina que vão desde 83% a menos até 485% a mais do que indicado na lista de excipientes.
Assim que o sono ocorre, a concentração da melatonina diminui lentamente ao longo da noite até às primeiras horas da manhã.
Com o amanhecer, à medida que a luz do sol entra nos olhos (mesmo através das pálpebras fechadas), é como se o travão da glândula pineal fosse pisado, desligação assim da libertação da melatonina.
A ausência da hormona informa então o cérebro e o corpo de que a meta assinala o fim do sono já foi atingida. Está na altura de concluir a corrida do sono e permitir que a vigília ativa regresse e se instale durante o resto do dia.
Neste aspeto, nós os seres humanos somos «alimentados a energia solar».
Depois à medida que a luz se desvanece, levanta-se o travão solar que bloqueia a melatonina.
Enquanto os níveis hormonais voltam a aumentar, uma nova fase de escuridão é identificada e um novo evento de sono é chamado à linha de partida.
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s Journal, fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6
Fonte da 1ª imagem: https://www.pharmanord.pt/news/portugueses-tem-dificuldade-em-dormir-a-noite1