“Até agora, falámos do poder do sono depois da aprendizagem como forma de melhorar a memória e evitar o esquecimento.
No entanto, em determinados contextos a capacidade de esquecer pode ser tão importante quanto a capacidade de recordar, tanto na vida quotidiana (por exemplo, esquecendo o lugar onde estacionámos o carro na semana passada para nos lembramos do local onde estacionámos hoje), como em termos clínicos (por exemplo, descartando memórias dolorosas ou incapacitantes, ou extinguindo a necessidade de satisfazer uma adição ou vício).
Mais do que isso, esquecer não é apenas benéfico para a eliminação de informação armazenada da qual já não precisamos, também diminui os processos a que o cérebro precisa de recorrer para recuperar as memórias que queremos guardar, à semelhança do que acontece quando queremos encontrar um documento importante numa secretária bem organizada.
Desta forma, o sono ajuda-nos a reter tudo o que precisamos e nada do que não precisamos, melhorando a facilidade de recordar os factos. Dito de outra forma, esquecer é o preço que pagamos para recordar.
https://www.bayer.com.br/pt/blog/memoria-como-guardamos-informacoes
Como os fusos do sono executam exatamente este inteligente truque de memória, não é ainda claro para nós.
No entanto, o que descobrimos foi um padrão de atividade circular no cérebro bastante revelador, com estes velozes fusos de sono. A atividade circula entre o local de armazenamento da memória (o hipocampo) e as regiões que programam a decisão de intencionalidade ( o lobo frontal), tais como «Isto é importante», ou «Isto é irrelevante».
O ciclo de atividade repetitivo entre estas duas áreas ( a memória e a intencionalidade), que acontecem entre dez a quinze vezes por segundo durante os fusos do sono NREM na distinção das memórias.
Como selecionar intencionalmente filtros numa pesquisa na Internet ou numa aplicação de compras online, os fusos de sono oferecem à memória um benefício de refinamento ao permitirem à unidade de armazenamento do hipocampo que verifique os filtros intencionais que o seu astuto lobo frontal emite, aprovando assim a seleção das informações de que quer realmente recordar-se, enquanto se desfaz das restantes.
Actualmente estamos a explorar novas formas de controlar este serviço extraordinariamente inteligente de recordação e esquecimento seletivos, relacionados com memórias dolorosas ou problemáticas.
A ideia pode invocar a premissa do filme premiado com um Óscar, O Despertar da Mente, em que os indivíduos têm acesso a uma máquina especial de manipulação cerebral que apaga as memórias indesejadas.
https://cinecartaz.publico.pt/Filme/95859_o-despertar-da-mente
Em contraste, o meu desejo para o mundo real é que possamos desenvolver métodos precisos de enfraquecimento ou esquecimento seletivo de certas memórias do arquivo pessoal de alguém, quando se verifique a necessidade clínica, como por exemplo situações de trauma, adição de drogas ou abuso de outras substâncias.”
Fonte: Walker, Matthew; Porque dormimos?; Men’s , fevereiro 2019, 978-989-8892-25-6 Pág 137 a 139