“ A acupuntura é uma terapêutica milenária utilizada pelos chineses que foi introduzida em França no século XIX em consequência das relações que estabeleceram entre duas civilizações. Mas foi mal conhecida por muito tempo, até aos anos 30, altura em que Georges Souillé de Morand, que não era médico, dedicou a sua vida a divulgá-la nos países ocidentais. Até há uns cinquenta anos a esta parte foi praticada de maneira quase clandestina por um pequeno número de médicos.
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Depois disso começou a ganhar popularidade cada vez maior devido a algumas extraordinárias experiências chinesas de anestesia por acupuntura. Missões de médicos ocidentais tomaram conhecimento local das reais possibilidades desta terapêutica a fim de melhor definir as suas principais indicações. A acupuntura, com efeito, é eficaz num vasto leque de aplicações médicas, o das doenças ditas funcionais, isto é, em que não está comprometida a integridade anatómica dos órgãos (embora possa curar certas úlceras, como, por exemplo, as temíveis retocolites hemorrágicas, que por vezes são mortais). Os fundamentos científicos deste método estão já claramente definidos. O nosso revestimento cutâneo possui inúmeras ramificações nervosas cuja função consiste em captar os mais variados estímulos para os transmitir ao sistema nervoso central. Este analisa-os, classifica-os e reagrupa-os em função da mensagem recebida por seu intermédio e depois adota o comportamento mais adequado à situação. Essas finas ramificações nervosas concentram-se em certas zonas mais ativas e de maior densidade, que são os pontos de acupuntura. Há várias centenas desses pontos, ou mesmo milhares (os chineses estão sempre a descobrir outros novos), distribuídos por toda a superfície do corpo. Estimulando um ou mais desses pontos por uma determinada ordem, é possível enviar ao cérebro uma «mensagem codificada», pois cada ponto tem, em função da sua localização, a sua particular especificidade terapêutica.
O trabalho do técnico de acupuntura pode ser comparado ao de um programador de informática que, premindo as teclas do seu terminal, envia ao sistema central da máquina de cálculo informação em código. Neste caso, esse sistema central é constituído pelo cérebro e pela medula espinal. Agrupando os pontos por determinada ordem, é possível criar mensagens terapêuticas que, uma vez recebidas pelo sistema nervoso central, provocam a adequada resposta por parte do organismo. Este, com efeito, obedece à mensagem que o cérebro lhe envia em resposta aos estímulos recebidos e liberta as energias necessárias à reparação dos estragos sofridos e à reorganização das funções perturbadas. A mensagem terapêutica das agulhas de acupuntura atua, pois do mesmo modo que uma chave no meio de uma combinação de números que permitem abrir a fechadura de um cofre forte. Eis porque a acupuntura, tal como diversas outras técnicas médicas ditas «suaves», e a que eu chamo «medicinas energéticas», é uma aquisição terapêutica fundamental: permite «recuperar as avarias» unicamente com os recursos próprios do indivíduo.
Há melhor: foram descobertas recentemente as substâncias químicas que o cérebro utiliza sob a influência da acupuntura. De facto, existe no nosso cérebro um sistema de hormonas a que foi dado o nome de «endorfinas» (morfinas endógenas) devido à sua analogia com os derivados do ópio já conhecidos, entre os quais se encontra a morfina. A principal ação biológica dessas substâncias consiste no seu efeito analgésico (isto é, o desaparecimento das sensações dolorosas) e na criação de uma sensação eufórica de bem-estar e descontração. As agulhas de acupuntura podem, pois, por intermédio da rede nervosa, provocar a secreção dessas famosas endorfinas, que são as hormonas-por assim dizer- do prazer, do não-dor, da descontração. Está, portanto, claramente demonstrada a ação biológica da acupuntura e, ao mesmo tempo, fica explicado porque é que ela dá tão bons resultados na desintoxicação antitabaco.
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Mas como são realmente as coisas? Será a acupuntura, de fato um tratamento miraculoso para o vício do tabaco? Existirá algum maravilhoso ponto antitabaco que resolva de uma vez para sempre todo o problema?
A minha resposta é um pouco mais matizada: a acupuntura «dá resultado». É ela, decerto, o método que mais elevada percentagem de êxitos apresenta. Mas tem os seus limites e, portanto, tem também as suas falhas. Antes de mais, é preciso que haja vontade de deixar de fumar. Ir receber as picadas já em si consiste em levar à prática uma decisão tomada. Não deve aceitar o tratamento de maneira passiva: seria um fracasso. Pode-se realmente deixar de fumar, mas e depois? Já observei bastantes vezes recaídas ao fim de poucos dias ou de poucas semanas a seguir à sessão de acupuntura, pois as pessoas não estavam suficientemente motivadas.
Fonte: Roger, Jean Luc; Como Deixar de Fumar; Publicações Dom Quixote, 1984, 71308