O açúcar é um produto químico (o seu verdadeiro nome é sacarose), oriundo da indústria alimentar, que não é absolutamente necessário ao nosso equilíbrio orgânico. É um produto biologicamente inerte, cujo interesse reside no seu sabor especial, na sua tão agradável doçura. O seu enorme consumo na atualidade explica-se, por um lado, por esse agradável sabor, pela sensação de segurança nutritiva que proporciona, e, por outro lado, pelas suas qualidades energéticas, que dele fazem um indispensável auxiliar do homem moderno, cheio de pressas. O clássico trio «café-açúcar-tabaco» ganha frequentemente a corrida nas pistas dos negócios modernos; é um estimulante universalmente reconhecido. Mas eu gostaria de mostrar aqui o nefasto papel deste estimulante. Com efeito, por definição, o processo de estimulação é um processo químico que permite pôr em jogo de forma rápida energias que até aí não estavam disponíveis. É a mesma coisa que mobilizar um crédito bancário, mas a situação pode ser comparada com a de uma pessoa que tenha um certo capital, vivendo unicamente dos seus recursos, e que vá levantando cheques atrás de cheques. É evidente que essa pessoa acabará por ver o fim dos seus recursos financeiros. Talvez seja paradoxal falar de excitação provocada pelo açúcar quando o sabor desse produto é tão doce, mas de facto é assim: o açúcar foi o primeiro excitante artificial posto ao nosso dispor pela a alimentação do dia a dia. Cabe-nos a nós saber utilizá-lo e até suprimi-lo durante o período primordial dos poucos dias que dura a desintoxicação antitabaco. Não será da parte do leitor um esforço inútil; cada estímulo sensorial que lhe chegar à boca pode, facto, excitar a necessidade de fumar. Os alimentos que contém açúcar são muitos e variados. Os bolos, claro está; mas também as compotas, o chocolate, as outras doçarias, as bebidas adoçadas, etc.
https://zsweet.com/blogs/news/tobacco-vs-sugar-which-poses-the-greater-health-risk
Adote um regime simples e mesmo frugal: isto é, nada de pratos demoradamente cozinhados ou conhecidos como indigestos – pratos com molhos, guisados, frituras, gorduras cozinhadas, etc.
Não coma enchidos nem carnes fumadas, a não ser perna afiambrada magra (não fumada). Não coma carnes gordas nem peixes «reimosas» (atum, sardinhas, etc.).
Não coma temperos irritantes: nenhum vinagre (que será substituído por sumo de limão), nenhuma mostarda, nenhuma pimenta, nenhumas especiarias ou condimentos. Use de moderação no sal. Será necessário seguir a linha geral que atrás citei, procurando comer apenas alimentos mais neutros que for possível encontrar. Se desejar, aromatize-os com aromas suaves: salsa, cebolinha, cerefólio, ervas de cheiro secas – estragão, tomilho, louro, salva, etc
Suspenda café, o chá e o cacau. Substitua-os por tisanas energéticas de salva, tomilho ou alecrim. Se não puder passar sem café, poderá beber no máximo uma chávena ao pequeno-almoço e outra ao meio da tarde, mas nunca a seguir às refeições, porque nesse caso a vontade de fumar viria logo à superfície devido à sensação de ideias e à excitação das mucosas gustativas.
Evite as massas, evite o excesso de pão (substitua-o por pão integral: come-se menos…), evite os alimentos feculentos ou farináceos, o arroz, os legumes secos…Provocam digestões difíceis e fermentações de que resulta um nefasto «entorpecimento» geral. Durante o período da desintoxicação, o espírito deve manter-se claro, vivo e desperto; as ideias desenvoltas e o corpo o mais leve possível: as refeições copiosas ou indegestas são, pois, altamente prejudiciais para a obtenção de tal estado.
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Nem aperitivos nem digestivos nem vinho (a não ser cortado com água). O álcool é um excitante nocivo a três níveis: em primeiro lugar, pela excitação cerebral que provoca; depois pelo seu efeito irritante local no palato e na língua, e, finalmente, pela associação de ideias que traz consigo. O trio que atrás falamos- «café-açúcar-tabaco» -, pode, na verdade, ser completado com álcool. O álcool, mesmo quando tomado em pequenas quantidades, é nocivo para as células do organismo e prejudica a vitalidade geral, embora cause, paradoxalmente, um certo ímpeto passageiro e uma certa melhoria da vivacidade psíquica. Em resumo: é um elemento tóxico para consumo em reuniões ou por prazer, mas deve ser formalmente eliminado durante os poucos dias da cura antitabaco
Fonte: Roger, Jean Luc; Como Deixar de Fumar; Publicações Dom Quixote, 1984, 71308